Do que os homens! Morder como quem beija!
É ser mendigo e dar como quem seja
Rei do Reino de Aquém e de Além Dor!
É ter de mil desejos o esplendor
E não saber sequer que se deseja!
É ter cá dentro um astro que flameja,
É ter garras e asas de condor!
É ter fome, é ter sede de Infinito!
Por elmo, as manhãs de oiro e de cetim...
É condensar o mundo num só grito!
E é amar-te, assim perdidamente...
É seres alma, e sangue, e vida em mim
E dizê-lo cantando a toda a gente!"
- Ser poeta, Florbela Espanca -
Hoje acordei com saudade dos poemas da Florbela. A primeira vez que li algo dela foi há uns dois anos, no about me de uma amiga. (Flavinha, "mulher-moderna", sempre um passo na minha frente! rs). Lá estava escrito dois fragmentos do poema "Velhinha":
"Se os que me viram já cheia de graça
Olharem bem de frente para mim,
Talvez, cheios de dor, digam assim:
Já ela é velha! Como o tempo passa!…
Tenho vinte e três anos! Sou velhinha!
Tenho cabelos brancos e sou crente…
Já murmuro orações… falo sozinha…"
E foi curiosidade à primeira vista. Aquilo me instigou. Quem seria esta de nome tão engraçado e forte? Aí procurei, e li, e li, e li... e apaixonei. Por algum tempo vivi no mundo ilimitado, erótico, passional e feminino da Florbela. Mas aí vieram outros, outras... e a Florbela foi ficando pra trás.
Inusitada e deliciosamente, hoje acordei lembrando dela.
Apreciem e me digam se não é gostoso...
"Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Com que sarei a minha própria dor.
Os meus gestos são ondas de Sorrento…
Trago no nome as letras duma flor…
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento…
Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
Eu sou Aquela de quem tens saudade,
Fico feliz de inspirar em uma amiga tão querida as palavras de Florbela!
ResponderExcluir