terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

: : NONADA LISPECTORIANO : :



"Tenho medo de escrever. É tão perigoso. Quem tentou, sabe. Perigo de mexer no que está oculto - e o mundo não está à tona, está oculto em suas raízes submersas em profundidades do mar. Para escrever tenho que me colocar no vazio. Nesse vazio terrivelmente perigoso: dele arranco sangue. Sou um escritor que tem medo da cilada das palavras: as palavra que digo escondem outras - quais? Talvez as diga. Escrever é uma pedra lançada no poço fundo."

- Clarice Lispector -



... l a n c e i ...



Ainda me sinto presa à vergonhosa ilusão da completude. À imatura ambição por um amor romântico. À pretensiosa onisciência daquilo que se passa. À inocente sensação de total reciprocidade. Tudo isto inexiste. Mas ainda assim me entristeci. Um link. Dois cliques. Algumas horas. E agora? Agonia. Um quase desgosto. Uma quase mágoa. Um padecimento burro. Burro. E aí? E daí? Alguém ri. Daqui, profunda e exageradamente me sentindo à parte, brinco com meu primeiro “sketch” (que sejam reconhecidos meus quinhentos parêntesis!!). E diversão já vi nisso. Dá liberdade. Dá vontade de voar. Dá vontade de xingar também. Falar com agressividade. Nem que seja só um pouco. Pudor. Toma conta! Que droga isso, às vezes. Mas que há liberdade num bom xingo, não tenho dúvida. Por que digo que tudo isso sai “exageradamente”? Meus sentimentos são exagerados. "Sinto as mínimas coisas extraordinária e desmedidamente." (Pessoa). As boas e as ruins. Sem distinção. Geralmente extrapolo. Invado. Colônia de exploração. Não me orgulho. Não faço por mal. “Não me convidem a ser igual, porque sinceramente sou diferente. Não sei amar pela metade. Não sei voar de pés no chão. (Obrigada, Clarice). Ainda é melhor assim. Chorar e sorrir, mas viver. Porque tem coisa que a gente sente, e sente, e sente, e ponto. “O diabo na rua no meio do redemoinho”. Os ditos “os outros” também não faziam parte. Boa explicação. Fria. Sincera. Simples. Quase amorosa. Quase conforto. Quase refresco. E então, sendo assim, pra quê complicar? Espernear? Porque viver é isso também. Complicando, a vida é mais real. A vida é complicada para aqueles que elucubram. E eu existo para isso também: conjeturar. Continuo... Faço parte “dos outros”? Faço. “Os outros” são todos aqueles que não a gente mesmo. “Os outros” são “o próximo”. Amai ao próximo! Leia a bíblia. E em seguida, leia Nietzsche. Desiluda! Diz uma das Margaridas. Aceite ser comum. Aceite ser mais um. Tá. É simples. Simples? Oh vida adulta, quantas exigências! Ah, mas não tenho medo não. Mulher-jagunço. “O maior direito que é meu é que ninguém tem o direito de fazer medo em mim!” Inconstante, borboleta e jagunço. Está errada! Cresça, Marina! Você não é novinha mais. Seja mais madura. Seja racional! Pra quê complicar tanto? Fico no meu canto, aqui mando eu e minha convicta vontade de ser meio errada. Não tão errada a ponto de incomodar. Errada pra mim. Errada em mim. Ponto. Convicções demandam insistência. Explique-se, Marina. Explique-se. Se a gente vive para desiludir, por que não desiludir tudo que uma vez só? Ah estas pedras que deveriam ser chutadas e desconsideradas. Mas aí, que graça teria? Processo é processo. Acalme-se. Acalmem-se todos. A tristeza inicialmente sentida? Uma hora passa. Aliás, aos minutos passa. Passa com os minutos dessas trinta linhas. Trinta. Contei. Trinta até aqui. Ponto. Acho que consegui desconfiar como é pensar escrevendo. É bom. E é estranho. Já não lembro como comecei. O que é bom. Esqueça. Cresça. Mas não deixa de ser estranho. E a tristeza inicialmente sentida? Até já passa. Ou até amanhã passa. Se não passa, a gente enjoa, acostuma. Andei vivendo coisas e algumas sei discernir: as desse tipo passam. Feitiço de bruxa. "Bruxa boa... mas bruxa!", repete Lúcio. Mulher-jagunço. Desiludir é admitir, acolher, tolerar. E a vida real é mais gostosa quando a gente aceita as coisas como são. Braços abertos para a realidade. Dois são dois. Um de lá. Outro de cá. Que se encontram. Que se mostram naquilo que querem. Que querem. Com amor. Amor doce. Leve como pluma, muito leve, leve e pousa. Aprenda, Marina! Mostre-se. Esconda-se. Encante. E não procure o que o outro escolhe guardar. O guardado é dele. Dele. Os outros são os outros. Todo mundo é “os outros”. Admita. Aceite. Viva. Há paz também no mistério. Aprenda. Adeus anseio por onisciência! Sinto preguiça da onisciência. A pretensão da onisciência é supérflua. Desgastante. Estúpida. Patética. Cruel porque irrealizável. Perversa porque inexecutável. Sádica porque insuportável. E mais minutos passam. E passam. A vida passa. E eu, será que passo? "Não adianta brigar, até sexta vocês vão ter feito as pazes!". Me aceite. Me admire. Me deseje. Me ame. Apenas. Assim.



Etcétara.

3 comentários:

  1. Você fala de verdade, você fala de amor...
    e o que é romântico nos dias de hoje?

    sensações em galerias? por nada? pra algum ninguém.

    e o beijo pago ainda tem fundamento

    ...VALORES...

    e
    ..."o guardado é dele"...

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  2. Para vc, Marina. Adoro este vers de Drummomd.

    Cidadezinha qualquer

    Casas entre bananeiras
    mulheres entre laranjeiras
    pomar amor cantar.

    Um homem vai devagar.
    Um cachorro vai devagar.
    Um burro vai devagar.
    Devagar...as janelas olham.

    Eta vida besta,meu Deus.

    Carlos Drummond de Andrade

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  3. O que tem valor hoje em dia? O que não é banal, o que não se tem a cada esquina. O que nos tem valor, acha -o guardado em segredo; só vc deverá saber como abrir esse cadeado, senão... ... senão, cai no banal novamente, e o banal, não tem graça Marina...
    Leticia Soares

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